A festa Civilizatória que vai muito além do esporte.
As Olimpíadas são um fenômeno global que une os melhores atletas de cada continente para celebrar as grandes conquistas do ser humano no esporte. A cada edição, recordes são quebrados e limites são rompidos, simbolizando o progresso da relação da humanidade com o exercício físico.
Além do esporte, essa grande celebração mundial une pessoas, promove diferentes culturas e cria legados, especialmente para as cidades-sede. No entanto, o que poucos sabem é que algumas vertentes da cultura já foram, literalmente, “Esportes Olímpicos”.
Na Pílula Arquitetônica 7, abordaremos como as Olimpíadas vão muito além do esporte e enfatizam historicamente diferentes formas de arte, especialmente o principal pilar da Idea!Zarvos: a Arquitetura.
A origem das Olimpíadas
As Olimpíadas têm origem na Grécia antiga, parte do festival religioso que homenageava Zeus. Considerado o governante, protetor e pai de todos os deuses e humanos, Zeus é na Mitologia Grega, o chefe da humanidade e de tudo que nos cerca. No princípio, os jogos abordavam competições de corrida, salto em distância, arremesso de peso, lançamento de dardo, boxe e eventos equestres. Com o passar do tempo, disciplinas como poesia, performance de Trompete, Lira e outros instrumentos musicais, se tornaram recorrentes.
Os Jogos Olímpicos do mundo antigo duraram por aproximadamente 12 séculos. No ano de 393 d.c., o Imperador Romano Theosodius I baniu os jogos com o intuito de promover o Cristianismo e acabar com todo tipo de manifestação Pagã.
Os Jogos caíram no esquecimento da humanidade até o fim do século 19, quando Pierre de Coubertin, um aristocrata e historiador francês, decidiu se esforçar para reviver as Olimpíadas. Em 1894, ele fundou o COI (Comité Olímpico Internacional) e em 1896 os primeiros jogos do mundo contemporâneo aconteceram em Atenas.
As edições olímpicas no mundo contemporâneo
As primeiras edições foram focadas em esportes já clássicos, como atletismo e hipismo, além da adição de novas modalidades que vinham ganhando popularidade como o Futebol, Tênis e Ciclismo. As Olimpíadas de 1900, também sediada em Paris, contava com alguns esportes excêntricos como Cabo de Guerra, Croquet e Pelota Basca. Pierre de Coubertin, no entanto, queria retomar essência dos Jogos Antigos de promover “Músculo e Espírito” e criou um programa especial para premiar a cultura.
Na edição das Olimpíadas de 1912, sedeada em Estocolmo, o projeto “Pentatlo das Musas” foi introduzido. As disciplinas da arquitetura, pintura, escultura, música e literatura foram selecionadas para promover medalhas de ouro para a cultura. O processo, obviamente, diferia das outras competições: Os artistas emitiam seus trabalhos antes dos jogos e o COI junto com o comitê local das cidades-sede designava os vencedores.
Esse método foi especialmente relevante na escolha dos projetos para os diferentes estádios olímpicos. Em 1928, Amsterdam sediou os jogos e gerou um dos mais relevantes projetos arquitetônicos da história do esporte.
Os impactos das Olimpíadas na arquitetura
O Estádio Olímpico de Amsterdam foi projetado pelo arquiteto holandês Jan Wils, um dos principais membro do movimento De Stijl. Essa geração de artistas, designers e arquitetos holandeses, ficou mundialmente conhecida pelo trabalho de Piet Mondrian. Jan Wils foi um arquiteto da mesma geração de Gregori Warchachik, Mies van der Rohe entre outros modernistas.
O Estádio apresenta diversas características da chamada Escola de Arquitetura de Amsterdã. A fachada e decoração são predominantemente feitas de tijolos, material característico do movimento. A estrutura do estádio também fez uso de concreto, típico do movimento modernista. A torre principal é outro grande destaque do projeto; nela ficava a chama olímpica, introduzida ao público pela primeira vez justamente naquela edição dos jogos.
O “Pentatlo das Musas” ficou presente até a edição de 1948 em Londres. A partir daí, no período pós Segunda Guerra, a arte e a cultura deixaram de fazer parte de forma integral dos Jogos Olímpicos.
Com a modernização dos meios de transportes e o início da era da globalização, as Olimpíadas começaram a atingir outra escala de interesse e de visitantes. Isso resultou em projetos arquitetônicos que transbordaram a funcionalidade esportiva, cada vez mais se tornando relevantes para o bem-estar urbano das cidades-sede.
O primeiro grande exemplo disso veio em 1972, quando Frei Otto e Gunther Behnisch projetaram o Estádio Olímpico de Munique e o complexo do Olympiapark. Essa área, de quase 850.000m2 abrigou diferentes estruturas para os jogos, como a Vila Olímpica, o Centro de Esportes Aquáticos e um parque público que até os dias de hoje é parte integra da cidade de Munique.
O projeto arquitetônico de Estádio Olímpico foi concebido em uma cratera, originada por uma bomba da Segunda Guerra. Com isso, o estádio foi instalado abaixo do nível do resto do parque. Os arquitetos criaram uma estrutura tensionada sobre o terreno, que além do estádio principal, ramificou-se para os outros principais edifícios dos Jogos Olímpicos. Para proteger as edificações, uma membrana segue a estrutura, sutilmente se mesclando com a paisagem ao seu redor.
Duas décadas depois, Barcelona aproveitou o fenômeno midiático dos Jogos Olímpicos para desenvolver um grande projeto de renovação urbana e promover o turismo na cidade Catalã. Os edifícios esportivos se espalharam por diversas áreas da cidade, mas foi na antiga zona portuária onde o desenvolvimento mais robusto foi feito. Predominantemente industrial, essa área beira-mar não era usufruída pela população local.
Com projeto do MBM Arquitectes, ali foram instalados um parque, a Vila Olímpica e o Porto Olímpico, onde ocorreram as competições náuticas. A Vila Olímpica depois foi incorporada pela cidade como habitação social e a antiga região portuária deu lugar a um bairro vibrante repleto de restaurantes, hotéis e museus.
As Olimpiadas de Beijing em 2008 foram um outro marco na história da arquitetura dos jogos. Com o intuito de mostrar ao mundo a modernidade chinesa, alguns dos melhores arquitetos do mundo projetaram os diferentes edifícios. O Watercube, o centro de natação projetado pelo PTW Architects, impactou o mundo com uma fachada dinâmica, que remete a fluidez da água.
No entanto, o Estádio Nacional, popularmente conhecido como Ninho do Pássaro, foi o grande símbolo dessa edição. Projetado pelo escritório Herzog de Meuron, a estrutura da fachada foi construída majoritariamente com aço, com uma estrutura funcional e estética.
As Olimpíadas de Paris
Nesse ano, Paris inovou ao utilizar estruturas temporárias e ao reformar espaços antigos. O Grand Palais, construído em 1900, foi renovado pelo Chatillon Architectes e recebe partidas de esgrimas e Taekwondo dentro da bela estrutura Art Nouveau. Os mesmos arquitetos assinaram a reforma do Grande Nef Lucien-Belloni, que serve como centro de treino para os ginastas da competição. Construído em 1971 pelos arquitetos Pierre Chazanoff e Anatole Kopp, essa belíssima estrutura estava em desuso.
Outro destaque, é a La Defense Arena, projetado pelo arquiteto vencedor do prêmio Pritzker, Christian de Portzamparc. A estrutura moderna, projetado originalmente para ser um estádio de Rugby, foi adaptada para receber as provas de natação e Polo Aquático.
As Olimpiadas, ao longo da história, foram essenciais para o desenvolvimento atlético e cultural da humanidade. Dos tempos da Grécia antiga até os dias de hoje, uma infinidade de pessoas se reuniu para competir ou presenciar eventos esportivos. As diferentes edificações que receberam os jogos são parte intrínseca da história da arquitetura e moldam como cidades-sede se adaptam e evoluem a partir dessa grande festa da humanidade.
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